ATA DA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 21-03-2000.

 


Aos vinte e um dias do mês de março do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e três minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Walter Galvani da Silveira, nos termos do Projeto de Resolução nº 35/99 (Processo nº 2322/99), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a MESA: o Vereador João Motta, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal da Cultura; a Senhora Teresinha Irigaray, representante do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Hugo Lagranha, Prefeito Municipal de Canoas - RS; o Jornalista Erci Torma, Presidente da Associação Riograndense de Imprensa - ARI; o Tenente-Coronel Itamar dos Santos Castro, representante do Comando Geral da Brigada Militar; o Senhor Telmo Kruse, Vice-Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Walter Galvani da Silveira, Homenageado; o Vereador Isaac Ainhorn, na ocasião, Secretário "ad hoc". Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PSB e PPS, destacou a importância das atividades literárias e jornalísticas desenvolvidas pelo Senhor Walter Galvani da Silveira, expondo os motivos que levaram Sua Excelência a propor a concessão do Prêmio Literário Érico Veríssimo a Sua Senhoria. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças, como extensão da Mesa: dos Senhores Carla Irigaray, Alessandra Silveira Gonçalves, Lucas Silveira Gonçalves e Alex Augusto Gonçalves, respectivamente esposa, filha, neto e genro do Homenageado; do Senhor Osvino Toillier, representante do Sindicato das Escolas Particulares do Rio Grande do Sul – SINEPE; do Senhor Nicão Duarte, representante da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS; do Senhor Francisco Biazús, representante do Lions Clube de Canoas; do Jornalista Enio Rockembach; dos Escritores Luís Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar; de familiares e amigos do Homenageado. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, parabenizou o Senhor Walter Galvani da Silva pelo Prêmio hoje recebido, manifestando-se acerca das atividades profissionais desenvolvidas pelo Homenageado, especialmente no que se refere à trajetória de Sua Senhoria na Empresa Jornalística Caldas Júnior. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, destacou a justeza da concessão do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Walter Galvani da Silveira, comentando aspectos atinentes à produção literária de Sua Senhoria, em especial no referente à obra “'Nau Capitânia - Pedro Alvarez Cabral - como e com quem começamos”. O Vereador João Dib, em nome das Bancadas do PPB e PMDB, saudou o Senhor Walter Galvani da Silveira, historiando aspectos atinentes à vida pessoal e profissional do Homenageado e salientando a qualidade do trabalho desenvolvido por Sua Senhoria no campo do Jornalismo e da Literatura. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, prestou sua homenagem ao Senhor Walter Galvani da Silveira, reportando-se à atuação de Sua Senhoria como profissional da Empresa Jornalística Caldas Júnior e mencionando o rigor técnico, histórico e antropológico sempre presentes em suas obras. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, referiu-se à importância da concessão, no dia de hoje, do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Walter Galvani da Silveira, destacando que este Prêmio é concedido “ao autor de obras que, em função do seu conteúdo literário, enriqueçam as letras nacionais”. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn e a Senhora Carla Irigaray para, juntamente com Sua Excelência, procederem à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Walter Galvani da Silveira, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio recebido. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelo Desembargador Luiz Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, pelo Vereador Lauro Hagemann, pelo Senhor Oscar Demarin, Cônsul-Geral do Uruguai, pelo Irmão Elvo Clemente, Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras; pelo Clube Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo, pelo Senhor Aldo de Magalhães, 1º Vice-Presidente da Associação Nacional de Escritores, pelo Deputado Estadual Adilson Troca e pelo Senhor Tarcísio Padilha, Presidente da Academia Brasileira de Letras, e convidou a todos para visitarem as exposições instaladas nas dependências deste Legislativo, intituladas "Cabral, o Viajante do Rei", "Armas do Brasil, Ferramentas para a Paz", "Pátria Amada Esquartejada" e "O Descobrimento do Brasil". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e três minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Motta e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Motta): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao escritor e jornalista Walter Galvani da Silveira, por proposição do Ver. Isaac Ainhorn.

Convidamos para compor a Mesa o nosso querido homenageado o jornalista Walter Galvani da Silveira; a Sr.ª Margarete Moraes, Secretária da Cultura, representante do Sr. Prefeito Municipal; a Sr.ª Teresinha Irigaray, representante do Tribunal de Contas do Estado; o Sr. Hugo Lagranha, Prefeito Municipal de Canoas; o Sr. Erci Torma, Presidente da Associação Rio-Grandense de Imprensa; o Tenente-Coronel Itamar dos Santos Castro, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; o Sr. Telmo Kruse, Vice-Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O proponente, Ver. Isaac Ainhorn, está com a palavra para falar em nome das Bancadas do PDT, PSB e PPS.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Saúda os presentes.) Esta Casa, neste fim de tarde, início de noite, outorga o título, mais especialmente concede ao ilustre jornalista Walter Galvani da Silveira o Prêmio Literário Érico Veríssimo, que é conferido por sua contribuição e ao reconhecimento desta Casa ao escritor brasileiro que tenha se distinguido por sua contribuição às letras nacionais. Aqui mesmo, nesta noite, com muita satisfação, participam desta Sessão alguns agraciados deste mesmo Prêmio: o escrito Luís Fernando Veríssimo e o escritor Moacyr Scliar. Integram, também, outros nomes ilustres das nossas letras e que receberam desta Casa o reconhecimento à sua contribuição literária: Liberato Vieira da Cunha e Luiz Antônio de Assis Brasil, entre outros que, aqui, receberam este Prêmio, que leva o nome da nossa maior expressão literária do Rio Grande do Sul e podemos dizer, com toda a tranqüilidade, uma das maiores marcas literárias de nossa literatura, Érico Veríssimo.

É importante ressaltar, nesta oportunidade, que o homenageado é uma figura extremamente ligada à Cidade de Porto Alegre. Apesar de ter nascido na Cidade de Canoas, a representação política da Cidade de Porto Alegre, o Legislativo, o tem e o considera, também, um porto-alegrense ilustre. Todo o seu trabalho tem sido feito, nesta nova categoria geográfico-administrativa, que é a Região Metropolitana. Dirigiu, aqui, a Folha da Tarde, tem uma presença marcante na vida da Cidade e uma contribuição significativa à cultura rio-grandense, à literatura do Rio Grande do Sul e à literatura brasileira.

Na minha opinião, um dos marcos e uma das referências culturais, históricas, sociológicas e literária em relação ao Rio Grande do Sul é a sua obra Um Século de Poder, a História da Caldas Júnior. E é um livro que prende o leitor durante todo o seu tempo, pela densidade da obra, pelo conteúdo que ela traz como contribuição a uma reflexão sobre a empresa Caldas Júnior e, pode-se dizer com absoluta tranqüilidade, à história contemporânea, à nossa História do Rio Grande do Sul, e também à História Brasileira.

E coincide o reconhecimento desta Casa, através da outorga do Prêmio Érico Veríssimo a Walter Galvani com o lançamento da importante obra a Nau Capitânia que se constitui numa biografia de Pedro Álvares Cabral, por ocasião das comemorações dos quinhentos anos do descobrimento do Brasil. O Walter consegue algo que é muito difícil, primeiro fazendo um trabalho de pesquisa histórica, de busca de fontes primárias, fazer uma biografia de uma figura. Uma coisa é fazer uma biografia de uma pessoa contemporânea, diferentemente é fazer uma biografia de alguém que já está bem distante na história. Mas ele foi às fontes primárias, foi a Portugal e lá permaneceu seis meses num projeto que já vinha de muitos anos antes e trouxe, como contribuição, a Nau Capitânia, biografia de Pedro Álvares Cabral, que comecei a ler e verdadeiramente fiquei fascinado, porque se lê como se fosse um romance, pelo tipo de obra, pela condução que ele dá, sem prejuízo, em nenhum momento, do vigor das fontes e das peculiaridades históricas desse personagem que ele descobre para nós, alguém que trás essa contribuição aqui no Rio Grande do Sul de forma singular e original, trazendo uma contribuição de uma figura que pertence aos dois mundos, ao novo e ao velho continente. Nós nos orgulhamos que essa contribuição tenha sido feita por uma pessoa extremamente próxima a nós. Talvez pudesse ser escrito por um português, ou alguém do Centro do País, mas o nosso orgulho na concessão que estamos fazendo neste momento a Walter Galvani, outorgando-lhe o Prêmio Érico Veríssimo, é em reconhecimento a essa sua contribuição de algo que tem muito a ver conosco, mas que foge às nossas fronteiras regionais, e que diz muito conosco.

É esse reconhecimento, meu caro Walter, que nós, do Legislativo Municipal de Porto Alegre, fazemos a ti, até porque és uma pessoa que, além da contribuição cultural e literária, consegues escrever de uma forma muito próxima às pessoas. Talvez em função das tuas raízes de jornalista, consegues transmitir com muita clareza, com muita simplicidade, consegues fazer com que possamos ler as tuas contribuições, de forma rápida, até, para uma obra que tem uma natureza de pesquisa historiográfica. Por isso, neste momento, nós, em reconhecimento a tua contribuição, outorgamos o Prêmio Érico Veríssimo, que é o reconhecimento desta Casa a tua contribuição.

Não me sentiria de todo gratificado, neste momento, se não me referisse ao Walter Galvani, esse jornalista descobridor de talentos, incentivador das atividades nos mais variados ramos. Aqui mesmo, nesta Casa, tens um rol de admiradores, de pessoas que respeitam a tua trajetória. E, como jornalista, conseguiste o respeito e a admiração pela forma como desenvolves a tua atividade de escritor, sim, mas, neste momento, refiro-me, sobretudo, a tua atividade de jornalista, deixando as pessoas extremamente à vontade, incentivando o surgimento de novas figuras e, aqui posso dizer, na área onde temos uma atuação mais direta no curso desses anos, estimulando o surgimento de homens públicos, seja nos programas que conduziste como âncora, Espaço Aberto, que tratava do cotidiano da vida política da Cidade, do Estado e do País, seja no tua Guaíba Revista, onde desenvolves uma atividade diária de jornalista, buscando as contribuições da cultura porto-alegrense, rio-grandense e brasileira. É um dia-a-dia, é um cotidiano estimulando a atividade cultural em nossa Cidade. É isso que tu estás fazendo neste momento, compatibilizando essa atividade com a árdua tarefa de desenvolver e de escrever livros - o que é muito difícil para quem tem uma atividade diária intensa de jornalista -, poder, de repente, parar e desenvolver um trabalho de criação de uma obra literária, como é a Nau Capitânia. Aliás é uma das características que muito nos orgulha, dos nossos agraciados, o Luis Fernando, o Moacyr Scliar, que escrevem seus livros e não fogem do cotidiano e do diário da sua vida de cronista, do cotidiano das nossas vidas.

Walter, neste momento, gostaríamos de expressar a enorme satisfação que esta Casa tem em te conceder esse prêmio, um reconhecimento no qual o Legislativo Municipal se integra. Embora não tenha participado do projeto diretamente, mas nesse momento se integra em reconhecimento ao trabalho que tu tens desenvolvido. A ARI, a nossa Associação Rio-Grandense de Imprensa; a nossa Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; a Caldas Júnior, em parceria com empresas da atividade privada, souberam te dar o necessário incentivo, tão importante para desenvolver uma obra como a que tu realizastes, passando um tempo em Portugal, fazendo pesquisas e trazendo todo esse material aqui e construindo essa maravilhosa obra, que culmina com a Nau Capitânia, a biografia de Pedro Alvares Cabral.

Eu acho que esse é o momento maior e que muito nos orgulha de coincidir a outorga do Prêmio Érico Veríssimo com a contribuição que neste momento tu estás dando à literatura rio-grandense, brasileira e até internacional, na medida em que a descoberta dessa figura um pouco escondida no tempo, ela será referência não só para nós, pois sei que os registros e as referências já têm sido nos dois mundos: aqui no Novo Mundo e lá no Velho Continente.

Portanto, Walter, é com muito orgulho que eu expresso o sentimento de satisfação, seja como autor desta proposição, seja como representante do meu Partido, neste momento, te homenageando e falando em nome do PSB e do PPS. Muito obrigado, e a honra de tê-lo conosco e na galeria dos agraciados com este Prêmio, que é o orgulho da nossa Cidade, o Prêmio Érico Veríssimo. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Gostaríamos de registrar, como extensão da Mesa, a Sr.ª Carla Irigaray, esposa do homenageado; Alessandra, filha do homenageado; Lucas, neto do homenageado: Alex, genro do homenageado; representante do SINEPE - Sindicato das Escolas Particulares do Rio Grande do Sul -, Professor Osvino Toillier; representante da FIERGS, Sr. Nicão Duarte; representante do Lions Clube de Canoas, Sr. Francisco Biazús; Jornalista Enio Rockembach; Escritor Luís Fernando Veríssimo, nosso ilustre cidadão, o Escritor Moacyr Scliar, demais familiares, amigos, colegas de rádio e jornal, nosso homenageado. Registro também a presença do Ver. Fernando Záchia, da Bancada do PMDB; do Ver. Juarez Pinheiro, da Bancada do PT e dos demais Vereadores presentes a esta Sessão.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra pela Bancada do PT.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nosso homenageado, Walter Galvani, autoridades já nominadas, senhoras e senhores. Eu tenho a honra de falar em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em especial dos meus colegas aqui presentes Ver. João Motta e Ver. Juarez Pinheiro.

Eu não sei, meu caro Walter Galvani, como o senhor chegou em Porto Alegre, se foi pela Av. Farrapos, se foi por Gravataí, mas sei que o senhor aportou em Porto Alegre para fazer uma militância no jornalismo e nas letras da nossa Capital, que se espalhou para além dessas fronteiras, passando pelo Estado, pelo País e pelo exterior. Sei que o senhor trabalha fundamentalmente em Porto Alegre, é nascido em Canoas e, se não me falha a memória, está morando em Guaíba. Talvez isso lhe dê condições de, mais facilmente, por bordejar a Capital, abraçá-la com esse amor e carinho que tem demonstrado nos escritos, falas, no seu cotidiano e na sua vivência. Por isso, nada melhor do que esta Cidade abraçar a proposição do Ver. Isaac Ainhorn e lhe conceder o título do nosso querido e sempre lembrado Érico Veríssimo. Este Prêmio é de grande merecimento por suas idéias, pelo seu ideal, pela sua permanente instigação de pessoas, de jornalistas, pessoas que lhe estão próximas. Eu tenho a certeza de que, com isso, nós estamos fazendo justiça à sua trajetória nas letras da nossa Cidade, do nosso Estado.

Agora, recentemente, o senhor nos apresenta uma nova abordagem de Cabral, do descobrimento e da nossa relação com os nossos irmãos portugueses. Só bem recentemente - esta é uma grande falha nas minhas leituras - neste verão, li esta obra brilhante, que é a história da Caldas Júnior, que li não como uma obra histórica, propriamente dita, mas a li como um romance histórico, tal o gosto que tive, passando página por página, e conhecendo um pouco mais da história desta Cidade, deste Estado, e o encanto que o senhor nos passa das pessoas, que muitas delas não chegamos a conhecer, mas que deixaram um legado também pelos seus escritos, pelas coisas que foram ditas e escritas nos jornais da Cia. Caldas Júnior

O senhor também deixou ali registradas páginas importantíssimas, e das minhas primeiras leituras dos jornais da Caldas Júnior lembro do seu nome, não o conhecia pessoalmente, mas a forma como senhor abordava algumas questões, dentre elas as questões da Cidade de Porto Alegre, já me encantava, e cada vez me encanto mais, porque precisamos, cada vez mais, cantar com as cores das suas letras, com a tonalidade e o jeito do senhor falar desta Cidade, que é um encanto, e que de forma muito singela lhe concede este título literário Érico Veríssimo.

Parabéns Walter Galvani. Estamos felizes em poder outorgar-lhe este título. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Elói Guimarães está com a palavra, pelo PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sr.ª Carla Irigaray, esposa do homenageado, Srs. escritores, intelectuais, colegas do homenageado da Empresa Caldas Júnior, amigos do homenageado, Srs. Vereadores, Sr.ªs, Srs., o Prêmio Literário Érico Veríssimo é inquestionavelmente um dos institutos jurídico-parlamentares muito caros à Câmara Municipal de Porto Alegre na relação que mantém com a Cidade, posto que visa homenagear, distinguir aqueles construtores da cultura, construtores do saber, enfim, construtores da literatura indispensáveis à formação da própria cidadania, indispensáveis à formação do próprio homem neste século, neste segundo milênio. Porque vivemos a era do conhecimento e da informação, do saber. Aquele que não detiver o saber, o conhecimento, a informação, é um homem que ficou na estrada do tempo.

Então, ao nosso homenageado, caro Walter Galvani, que produz o saber através da literatura, realizamos este grande ato na Câmara Municipal, pois a Cidade, pelos seus representantes, homenageia-o. Homenageia Walter Galvani, que produz o material indispensável ao homem, à mulher, à cidadania, enfim, indispensável ao desenvolvimento do ser humano.

Walter Galvani, nome por demais conhecido, até pela voz, pois o identificamos pela voz, posto tratar-se de um homem da comunicação falada, que durante quarenta e cinco anos se dedica à comunicação.

Walter Galvani da Silveira, escritor: após tantas obras produzidas, agora nos brinda, exatamente ao comemoramos os 500 anos do descobrimento, com a obra, que tive oportunidade de ler. No lançamento do livro, na sessão de autógrafos, lá me perfilei numa imensa fila de pessoas para ter em mãos o livro, para poder lê-lo, examiná-lo, evidentemente não com o preparo e os instrumentos de literato, do conhecedor, mas para conhecer. Passei a conhecer mais, e muito mais, porque pouco sabemos da verdadeira história de Pedro Álvares Cabral, e sua verdadeira história está na magnífica obra Nau Capitânia - Pedro Álvares Cabral, o Descobrimento. A idéia que tínhamos, e que se tem, é aquela veiculada pela informação escolar, de que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 22 de abril de 1500, e ficamos aí. Por décadas e décadas, senão por séculos, nos passaram essa informação, e ali paramos.

Que não tivesse realizado nada o Galvani, sua fecundidade nos mais diferentes setores onde atua, com brilho e com talento; se não tivesse produzido nada e apenas tivesse nos concebido essa obra, pelo talento, pela objetividade, pela alma que coloca quando escreve, pela pesquisa que teve, com a cumplicidade da esposa, essa obra, por si, pelo que ela representa, pelo que significa, pelo descobrimento que ela faz do descobridor, Pedro Álvares Cabral, já justificaria plena e cabalmente a homenagem que Galvani hoje recebe na Casa do Povo de Porto Alegre.

Nau Capitânia, nos lança a indagações e perplexidades. Fico a imaginar que Pedro Álvares Cabral era - está sustentado no livro -, em carne e osso, um instrumento do Renascimento, e por que não dizer que o descobrimento do Brasil é uma obra do Renascimento, sem aquelas idéias que se desenvolveram pelo mundo. Depois, talvez dez séculos, de paralisação da Idade Média, período em que se teve a impressão de que todos os valores, como a Arte, a Cultura e a Engenharia, pararam, e que a Renascença conseguiu desenvolver, não apenas, como diz o Galvani na sua obra, o aperfeiçoamento das caravelas e não a busca tão-somente de cristão e o comércio da pimenta. Mas aquilo estava no bojo de um grande movimento que acontecia no mundo. O descobrimento é uma obra, sim, na tese, na sustentação do literato, uma obra da Renascença. São todos aspectos que estão exauridos no trabalho de campo realizado pelo escritor, que não se cingiu a meio ano de pesquisa, período em que residiu em Portugal, mas que se deu ao longo de dez, quinze anos.

Este é um momento muito importante para a Câmara, em que estamos entregando este Prêmio a esta figura boa, querida de nós todos, homem que conseguiu ao longo do tempo granjear amizade pelo seu talento, pela maneira como trata essa relação entre as pessoas. Um homem da cultura, cujos programas produzem cultura, essa relação afável que estabelece com os seus coestaduanos, com a sua Cidade.

Este momento da entrega do Prêmio Érico Veríssimo a Walter Galvani é muito importante, porque representa colocar, na dimensão do Prêmio, uma figura que prestou, está prestando e prestará muitos serviços à literatura e à comunicação falada e escrita.

Desejamos, prezadíssimo cidadão de Porto Alegre, Walter Galvani, que continues nessa senda, descobrindo botas. Aquilo que colocas em tua obra que é, extremamente, fantástico. Eu, por exemplo, não sabia desse caso, onde se inauguram, em 1500, os correios. Os descobridores, na medida em que descobriam terras, deixavam uma bota com uma carta, dentro de um toco de uma árvore, quem passasse naquele local, anos e anos depois, pegava a carta e informava-se de uma série de dados a respeito do local por onde passava. Há um conjunto de dados que o livro traz. A obra é extremamente oportuna para este momento. Pena, Walter Galvani, que aquela proposição que fazes no livro, de como deveriam ser comemorados os 500 anos, não tenha sido adotada em sua totalidade, que era a de se levar a questionamentos essa série de aspectos que da riqueza transcendental que alterou as relações no mundo, que foi o descobrimento do Brasil, o descobrimento de Cabral que ficou, ao longo dos séculos, amortecido. Não conheço nenhum trabalho que faça justiça àquele instrumento ou produto da Renascença que foi Pedro Álvares Cabral.

A nossa homenagem, a nossa saudação, Galvani.

Que continues desenvolvendo projetos dessa natureza, porque só enriquecerás a nossa cultura, o nosso saber, pois teremos mais informações para construirmos, para enfrentarmos todos os embates que, na virada do milênio, serão colocados. É preciso que nos preparemos, mormente, vivendo neste mundo globalizado. É necessário que vocês, construtores de idéias, construtores de cultura e saber, nos passem essas informações para que o Brasil, para que o Rio Grande, para que nós, o povo de Porto Alegre, nos preparemos para nova era do saber, do conhecimento, enfim, a era da informação. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. João Dib está com a palavra para falar em nome da Bancada do PPB e do PMDB.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu poderia falar do gráfico, do jornalista, do escritor, do professor, mas eu prefiro falar do homem, homem simples, amigo, dinâmico, trabalhador, sério e que sabe fazer amigos. E, por falar no homem, antes da Sessão iniciar, eu falava que há uma disputa para saber se realmente o homem nasceu em Canoas ou Alegrete. Aí, eu fiquei na dúvida, porque uns puxavam para Alegrete, outros para Canoas, outros para Porto Alegre, o que significa que o homem, realmente, é um pouco mais, ele transcende às nossas fronteiras. Mas, depois, eu quero saber, se foi em Alegrete ou em Canoas.

Eu dizia que o homem que sabe realmente trabalhar, sabe ser sério, sabe fazer amigos. Vejam a plêiade de amigos que, hoje, aqui, compareceram. Eu poderia citar, pelo nome, muitos, mas eu só vou citar um que, há mais de vinte anos, eu não vejo ele comparecer na Câmara, Joseph Zukauskas. Hoje, veio aqui dar o abraço dele. Também eu abraço o Zukauskas, mas, através do abraço que eu dou ao Zukauskas, eu abraço a todos os senhores que aí estão.

Meu caro Galvani, quando a Casa do Povo de Porto Alegre homenageia um homem, alguns pensam que ele é bom e pode até ser, mas quando, num período curto de tempo, este homem é homenageado duas vezes pela Casa do Povo de Porto Alegre, podem ter certeza, ele é ótimo. E isso é o que acontece com o nosso querido amigo Walter Galvani que, cada coisa que faz, procura fazer da melhor maneira possível. Mas o homem Walter Galvani é igual a todos nós e nós temos apenas momentos bons, momentos ruins, e os momentos bons que nós chamamos de momentos felizes são aqueles que se confundem com a felicidade, e estes momentos devem ser guardados no fundo dos nossos corações, no nosso cérebro, porque há de chegar outros momentos que serão necessários. E esta Casa, vale dizer o povo de Porto Alegre, no mínimo duas vezes te proporcionou um momento muito bom, um momento muito feliz.

Nós queremos desejar, todos nós Vereadores, que tu tenhas muitos momentos felizes para que tu possas continuar dando essa contribuição que tem sido dada em todas as atividades que tens exercido. Galvani, sejas muito feliz. Saúde e paz. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra, pela Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Caros Galvani e Carla, maiores as dificuldades, maior o desafio. Enfrentas com a coragem dos fortes, o maior deles: trabalhar pela cultura em Porto Alegre. Aos poucos vais surpreendendo núcleos culturais dentro da Cidade e, diariamente, na hora do café da tarde, passa-os aos teus ouvintes. Transitastes por quase todas as especialidades em quarenta e cinco anos de jornalismo na Caldas Júnior e em outras empresas, esporte, colunismo social, clubístico, político e, atualmente, fruto de uma tendência pessoal, licenciosamente, permitiste que a literatura te possuísse. Gostei imensamente do A Noite do Quebra-Quebra, aquele final é inesperado e, até certo ponto, desconcertante. Degluti com os olhos Um Século de Poder. Abriste mão, recentemente, de ser âncora em um dos programas de audiência obrigatória logo após o almoço - Espaço Aberto - e da tua íntima relação com a política. Depois de quase um ano de pesquisa e do maior rigor técnico histórico-antropológico, voltaste às nossas raízes e pariste o Nau Capitânia, justamente nos 500 anos de Brasil. Ciência, emoção, imaginário, profissão, tudo conectado. A mudança das 13 para às 16h fez muito bem para um escritor como tu, que sempre comeu, bebeu e dormiu cultura como algo intrínseco, uma coisa de alma, endógena. No romance multifacetado, polivalente, com bom gosto transitas com extrema facilidade entre a vida e morte, amor e ódio, felicidade e desgraça, faces da moeda que revelam as manifestações humanas mais gloriosas e as mais deprimentes. Na história, outro romance detalhista, jornalista, cronista, contista, ficcionista, mescla de talento e versatilidade em busca do leitor exigente.

Gostaria, por fim, de te falar do Prêmio que, já meio atrasado, à inspiração do Ver. Isaac Ainhorn, confere a um dos mais dignos profissionais de rádio, jornal, televisão e literatura de Porto Alegre e de Canoas. Outro dia, vi na televisão alternativa uma entrevista com o grande crítico literário Wilson Martins. Enquanto a câmera em primeiro plano focava uma foto do Érico Veríssimo e Mafalda, jovem casal, ele falava da envergadura da produção invulgar do nosso escritor maior, o quanto ele soube lidar com as emoções humanas, os Eros e os Tanatos inseridos em cada frase de sua trilogia famosa, com um profundo conhecimento dos meandros psicológicos desse bicho homem, que a cada dia nos mostra uma faceta a mais de sua complexidade. Esse é o teu paraninfo, esse é o teu patrono, que todos nós gostaríamos de ter, mais do que isso, gostaríamos de merecê-lo, e tu o mereces, como escritor, como produção artística, literária, como compromisso de uma vida voltada para a cultura.

Apenas, e para terminar, gostaria de acentuar, com a ênfase máxima, algo que se pode perceber nas entrelinhas de teus livros, dos teus artigos: pode-se perceber a grandeza de um ser humano invulgar, muito especial, que milimetricamente produz cada linha com incomensurável coração. A Sônia te manda um abraço. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra para falar em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu havia alinhavado algumas palavras que eu pretendia transferi-las ao nosso homenageado Walter Galvani. Evidente que, sendo o sexto orador, numa solenidade onde pontificaram manifestações eloqüentes, inteligentes, desde o proponente da iniciativa, meu querido amigo, Ver. Isaac Ainhorn, passando pelo Professor Adeli Sell, pelo fluente e eloqüente Ver. Elói Guimarães, pelo experiente Ver. João Dib e pelo nosso médico-poeta Ver. Cláudio Sebenelo, que a minha situação ficasse compreendida por todos que estão a nos ouvir nesta noite.

O meu discurso, eu vou guardá-lo para, numa oportunidade, entregá-lo ao Galvani, pois eu temo ser repetitivo. E não quero, nesta hora, impacientar o nosso homenageado e, muito menos, os nossos convidados.

Eu só quero, Jornalista Benito Giustti, responsabilizá-lo por uma tarefa: V. S.ª tem que, imediatamente, informar ao Deputado Germano Bonow que nós temos que triplicar o nosso esforço, porque a condição de último, aqui, dá-se pela circunstância de eu ser o único representante do Partido da Frente Liberal e, evidentemente, primeiro falaram os mais fortes, agora falam os mais fracos. Mas não os menos emocionados e não os menos satisfeitos com este ato que hoje aqui se desdobra.

Realmente, os colegas que me antecederam conseguiram, com muita propriedade, pintar os vários ângulos, as várias facetas do homenageado, daquele que hoje recebe esta distinção máxima em termos de Literatura e quiçá no Rio Grande, que é o Prêmio Literário Érico Veríssimo, instituído com a finalidade de conferir ao escritor brasileiro, autor de obras que, em função do seu conteúdo literário, enriqueçam as letras nacionais.

O Ver. Isaac Ainhorn, eu já referi, com a sua sagacidade absolutamente reconhecida, flagrou esse vazio que tínhamos com relação ao reconhecimento das qualidades já não mais do cidadão, já reconhecidas por esta Casa, já não mais do comunicador, já reconhecidas por esta Casa, já não mais do professor, amplamente reconhecido nos meios acadêmicos, mas, agora, daquele que, no nosso entendimento, se impõe como merecedor dessa homenagem. Este é o reconhecimento pelo seu valor enquanto literato, enquanto escritor e homem de letras.

Eu que sou um “guasca” vindo de bem distante, tu bem sabes, e o Lagranha bem melhor, ele que me conheceu pequeninho nas barrancas do Rio Quaraí, sempre encontrei, nas obras de Érico Veríssimo, muito do valor telúrico da nossa gente, da nossa terra, sei que Walter Galvani, de todos os títulos que tem, e são muitos, aqui já foram enumerados, vai receber este com uma motivação muito especial. Por várias vezes, eu tive a felicidade de poder, em momentos de amenidade, conviver com Walter Galvani na Rádio Guaíba, na Folha da Tarde, fora da Guaíba, fora da Folha da Tarde, no cafezinho da Rua da Praia e em vários outros lugares, percebi nele sempre um carinho, uma admiração muito forte pela figura daquele que, como bem disse o Ver. Cláudio Sebenelo, é o paraninfo do grande escritor que, efetivamente, Porto Alegre reconhece  na figura do Walter Galvani. Por isso, meu querido amigo, peço-te perdão por não pronunciar um discurso mais eloqüente na mesma linha dos pronunciamentos que já ocorreram. As razões, eu já expus. Eu quero que tu tenhas a mais plena certeza de que eu posso ter sido batido e o fui, de longo, na articulação das palavras e no pronunciamento, mas, na emoção, eu disputo pau a pau com os meus companheiros, porque estou tão feliz, tão radiante, tão exultante no dia de hoje como está o autor da homenagem e todos aqueles que o acompanharam.

Galvani, o meu apreço por ti aprendeu o que o Ver. João Dib reconheceu: mais do que um belo escritor, mais do que um belo comunicador, tu és uma bela criatura, um tipo humano extraordinário, que tem a sensibilidade para ser crítico no momento em que a crítica se faz necessária, compreensivo, quando a compreensão se impõe pelas circunstâncias e, sobretudo, ser sempre um homem muito humano, muito fraterno e muito leal, apegado nos princípios, sabendo e aprendendo muito bem aquelas lições que o passado nos passou, no sentido de que precisamos ser, no dizer de Pinheiro Machado, “transigentes com os homens para sermos intransigentes com as idéias”, o que se encarna em ti como uma verdadeira característica. Tu, que és tão intransigente nas tuas posições e nos teus pensamentos, consegues ser, ao mesmo tempo, absolutamente compreensivo e tolerante com o teu semelhante, permitindo que, às vezes, até alguns incultos, como eu, possam conviver na mesma roda onde a tua cultura resplandece com tanta efervescência.

O meu abraço e a minha certeza: Porto Alegre ficou hoje menos endividada contigo, não saldou por inteiro seus débitos mas, pelo menos - como diria Brito Velho - “já deu ao seu o que de cujo é”, já deu a Walter Galvani o reconhecimento do grande escritor e do grande cidadão que ele consegue continuar sendo, mesmo tendo que, por algum tempo, ficar um período longo lá na velha Lusitânia para voltar à convivência do dia-a-dia conosco, mortais desta “mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre”. Receba o meu abraço. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Convidamos o autor da presente homenagem, Ver. Isaac Ainhorn, para, junto com o Presidente da Câmara, dividir a responsabilidade de fazermos a entrega efetiva do diploma referente ao Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Jornalista e Escritor Walter Galvani da Silveira. Também convidamos a Sr.ª Carla Irigaray para dividir conosco este ato significativo para todos nós.

(Procede-se à entrega do Diploma referente ao Prêmio Literário Érico Veríssimo.)

 

O homenageado, Sr. Walter Galvani da Silveira, está com a palavra.

 

O SR. WALTER GALVANI DA SILVEIRA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Hugo Lagranha, deixei por último, porque é uma questão naturalmente que Porto Alegre não tem nada com isso. O Hugo Lagranha, Prefeito Municipal de Canoas, nem me lembro desde quando, mas há uns dois ou três séculos desses do Pedro Álvares Cabral seguramente ele está lá, e já me disse que continuará, para sorte de Canoas. Aliás, Canoas está, hoje, muito bem representada, foi uma combinação que fiz com o Lagranha, dele trazer alguns dos meus companheiros, amigos e colegas para mostrar, também, que sou profeta na minha própria terra, isto é um desafio, o maior dos desafios.

Depois que o meu querido e fraternal amigo Isaac Ainhorn disse que eu seria homenageado nesta oportunidade, comecei a preparar o discurso. Durante muitos dias preparei este pronunciamento, pensando na importância para mim do profundo significado de uma premiação como esta com que estou sendo contemplado. Escrevi, reescrevi, imprimi, rasguei, apaguei da memória do computador, retomei o tema. E, para minha infelicidade, li na Folha de São Paulo, desta semana, uma entrevista maravilhosa do John Abdique falando sobre o último livro dele, o Moacyr Scliar sabe disso, e justamente falando sobre um personagem que recebeu um grande prêmio, o Prêmio Nobel, e ali dizia: “Você tem que pensar, acima de qualquer coisa, que você não é tão importante como você pensa.” Com essa lição na cabeça, rasguei tudo, eu pensava que era importante: nada disso. Tinha pensado em dizer: quantas oportunidades eu ainda vou ter de me comunicar com os meus contemporâneos, uma coisa solene, mas resolvi arquivar tudo. Algumas coisas preciso manter.

Em 1979, quando os membros da Câmara Municipal decidiram instituir o Prêmio Érico Veríssimo, pelo simples ato da criação do troféu, demonstravam o grau da sua admiração pela atividade intelectual, mas, na verdade, estavam estabelecendo, também, um paradigma. Assim, transformando a tarefa dos futuros premiados num gigantesco desafio.

Aqui, temos dois premiados, Moacyr Scliar e Luís Fernando Veríssimo. Há, também, na lista, o Liberato Vieira da Cunha, Martha Medeiros. Como vêem, todos escritores de primeiríssima linha.

Mas, e o desafio? Igualar-se ou tentar igualar-se ao paraninfo? Impossível. Copiar-lhe o exemplo? Está aí a saída, só que é um programa de vida. Érico foi um dos homens mais dignos que conheci, sobretudo pela modéstia, pela sincera camaradagem com os mais jovens, pela humildade, apesar do imenso renome que ele alcançou. Tive a sorte de aproximar-me dele, quando nos primeiros tempos de jornalismo e de escritor estreante nesta Cidade, e em não poucas oportunidades, fui contemplado com a sua ajuda e a sua enorme capacidade de tolerância. Jamais sonhei que receberia um pergaminho com o seu nome, premiando a minha contribuição cultural.

Os Srs. Vereadores aprovaram por unanimidade a proposição do Isaac Ainhorn, e como ouvi dos Vereadores Adeli Sell, João Motta, Elói Guimarães, João Dib, Cláudio Sebenelo, Reginaldo Pujol e do próprio Isaac Ainhorn, eles reconhecem alguma coisa no trabalho que tenho feito. Por isso, e por ser uma homenagem, por ser o prêmio dedicado a Érico Veríssimo, este dia 21 de março de 2000, passa a ser um marco, uma data inesquecível, talvez insuperável, na minha vida pessoal e profissional. Eu nunca pensei que iria escutar as tão amáveis e calorosas saudações que aqui ouvi, e nem que poderia ver reunidos, aqui nesta Casa, amigos, parentes, colegas, pessoas que tanto significado ocupam em meu coração e em minha mente. Sei também que me atribuem o Prêmio Érico Veríssimo por tudo o que tenho feito, mas também pelo meu último trabalho, Nau Capitânia, que se insere nas comemorações do quinto centenário do Brasil, e como muito bem disse o Ver. Isaac Ainhorn, contou com a participação decisiva da Carla, minha mulher, com quem dividi todo o trabalho de pesquisa, que se não fosse o apoio e a participação dela em todos os momentos, inclusive com uma crítica mais séria, a mais dura da minha obra, quase digo “feroz”- mas andou perto - eu não estaria aqui, sendo festejado por vocês.

Pelas pessoas que estou vendo aqui, que eu poderia até destacar nome a nome, vejo que a Nau Capitânia tem muita sorte, porque é um livro que está realmente desfrutando daquilo que se chama de fortuna crítica – o Luís Fernando e o Moacyr sabem ao que estou-me referindo: manifestações favoráveis. Porque as pessoas que aqui estão, pelo significado que têm na vida da Cidade, na vida do Estado e na minha vida particular, já pela sua simples presença, dão-me essa resposta, que, naturalmente, aumenta, logicamente, a minha responsabilidade.

Por outro lado, quero aproveitar uma coincidência especial. A data de hoje foi instituída mundialmente como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, e isso me dá a oportunidade de cumprimentar o proponente desse Prêmio, porque ele próprio é um exemplo vivo de que não é discriminando que se faz uma vida digna. Isso é o que penso do meu amigo Isaac Ainhorn.

Além disso, outra coincidência, no meu livro Nau Capitânia, o que já me valeu manifestações, inclusive, de Portugal, reportei-me ao massacre ocorrido em 1506, em Lisboa, quando três mil judeus foram mortos, sobre uma população de sessenta mil pessoas que, então, habitavam a capital portuguesa. Como o meu livro não é, evidentemente, um simples tecer de loas a Portugal, e como procurei fazer uma análise crítica de todas as coisas, achei que cabia dizer que lá aconteceu essa monstruosidade. Ainda hoje, li, no Diário de Notícias de Lisboa, pela Internet, e vi que numa pesquisa feita lá, eles chegaram à conclusão de que continuam racistas. Coisa que, aliás, no Brasil, nos cumpre assinalar, ainda existe, infelizmente, e muito. Quanto ao nosso quinto centenário em si, prefiro assinalar que uso a palavra comemorar no seu sentido estrito, etimológico, ou seja, diferente um pouco de celebrar. Comemorar significa lembrar, relatar, recordar, trazer a memória e, ao fazer isso, discutir, debater. Acho que é para isso que devemo-nos reunir nesta oportunidade fantástica de comemorar, como disse, cinco séculos de Brasil. Acho que temos, sim, o que celebrar, mas temos, sobretudo, o que discutir, o que debater e nos aprofundar nessa questão, e vamos aproveitar, porque quinhentos anos nos tocam, mas mil, infelizmente, não, a não ser que descubram o segredo da imortalidade, mas eu penso que no aniversário de mil anos não chegaremos, é claro.

Esse momento, pois, em que se recorda o episódio da descoberta oficial e da incorporação da terra brasileira ao projeto de expansão política de Portugal, deve ser visto - como eu disse - como a grande oportunidade para o estudo e para o debate. Mergulhar nas raízes e, com a lente de um microscópio - e é isso que procuro fazer na Nau Capitânia -, examinar como e com quem começamos, o que houve de certo, o que se produziu de errôneo, quais foram os caminhos que tomamos, quais eram as propostas. Quem eram aqueles portugueses que aqui chegavam, com equipamentos tecnologicamente desenvolvidos, como as naus e as caravelas, com os seus adiantadíssimos mapas, os seus instrumentos, como o astrolábio, as suas réguas de medição, e oriundos de um País que ingressava, com a Europa, no grande sonho do Renascimento. E até que ponto os nativos que, por certo, divididos em inúmeras tribos, haviam ocupado terras de antecessores e, ao longo dos anos, também foram sucedidos, foram envolvidos ou derrotados, subjugados ou expulsos pelo choque cultural, ou foram incluídos e miscigenados, como aconteceria mais adiante com os negros que, injustamente, submetidos, escravizados, sem convite, para cá vieram. Mas, afinal, perderam-se de suas raízes com as sucessivas ondas e mistura sangüínea até onde chegamos e que, olhando os nossos próprios braços, nem sequer sabemos - e é bom que todos os brasileiros tenham bem consciência disso - tudo que temos de preto, de branco, de amarelo ou de vermelho.

Na pesquisa da Nau Capitânia, descobri uma palavra, uma expressão portuguesa que eu nem conhecia e depois fiquei sabendo o que queria dizer. Quando se diz “aquele ali é cristão de quatro costados”, quer dizer que ele é cristão por todos os lados. Eu, por exemplo, sou cristão por três costados, porque um costado é cristão novo, a minha família veio dos Açores, a família Silveira, que lá se chamava Van Der Hagen. Então, não tenho os quatro costados cristãos. Lá em Portugal, para sobreviver a um massacre, como o de 1506, eles também tiveram. que mentir, inventar e dizer: “Não, eu sou cristão de quatro costados!” E alguns deles foram batizados, respingados com água benta, que lhes era jogada à distância, batizados em pé, para que pudessem sobreviver a toda uma devastação que atravessou a pátria portuguesa por causa do preconceito racial, e que eu espero que o Brasil consiga dar andamento a essa obra que foi iniciada, essa mistura maravilhosa, e varrer também daqui, de uma vez por todas, qualquer resquício de preconceito. E é por isso que acho uma coincidência muito boa que tenha acontecido esse ato quando está sendo instituído hoje o “Dia Internacional Contra a Discriminação Racial” por causa do massacre que houve na África e que redundou na extinção do partido do congresso africano, na África do Sul e a prisão perpétua a que foi condenado o que acabou Presidente da República.

Sei que há diferenças sociais muito sérias no Brasil, uma imensa distância, que só tem-se aprofundado, entre ricos e pobres e uma iníqua distribuição de renda. Mas esta é a hora da discussão, do debate, de meter mãos à obra. Portanto, a Nau Capitânia navega, como vocês viram, também com essas intenções.

Mas sei, porque vi que pensaram em mim também, pela tentativa de resgate da história da imprensa rio-grandense, pelos meus quatro livros nessa área e pela noite do quebra-quebra, que o Sebenelo citou, um romance que também fala de preconceitos raciais, que vivi e senti em minha infância, em minha adolescência, e por tudo isso, pela tentativa de interpretação da alma gaúcha, dos seus anseios, seus sonhos, lutas, conquistas e derrotas que sofremos. Assim, chegamos de volta ao patrono.

Foi uma característica do Érico a sua desassombrada defesa dos valores gaúchos regionais. Por isso, ele se tornou universal, pela sua comprometida posição de apego a virtudes, como gente, como pessoa, como a lealdade, a franqueza, a generosidade, a hospitalidade, a amizade, que são aquelas que fazem a grandeza da nossa própria idealização da figura do habitante deste Estado. São as proposições que criam o nosso imaginário. Como também os nossos defeitos, somos humanos. Então, a polarização, a radicalização, a agressividade, a violência, a precipitação que temos, por vezes, e, até, a arrogância, tudo isso está retratado nos personagens que o Érico criou, naturalmente, mais do que em todos, na saga de O Tempo e o Vento.

Tenho convivido com a maioria dos Vereadores, esses que aqui estão e que me saudaram em minha longa atividade no Correio do Povo e nos demais jornais, editados pela Caldas Júnior, ou, até, na velha Revista do Globo, nos programas Espaço Aberto e Guaíba Revista, da Rádio Guaíba; no velho Estúdio Pampa, na Rádio Pampa, e tenho aprendido a respeitá-los e compreender o quanto eles têm-se dedicado à causa desta extraordinária Cidade, que me distingue pela segunda vez, como disseram, e pelo máximo do que poderia me dar nesta minha jornada jornalística já de quarenta e seis anos, começada lá em Canoas, no jornal Expressão, fundado pelo Túlio Medina Martins. Por isso, eu sei o significado de uma decisão como esta, uma decisão unânime, uma decisão de todos os partidos, representando pessoas e partidos tão diferentes. É uma suprema honra e um compromisso maior ainda, e que, com isso, eu fico agendado.

Olhando em torno, vejo a presença de tantos companheiros e lembro outros companheiros que aqui não estão e que por uma ou outra razão não puderam vir, como o Adil Silva, que me mandou um abraço, o Benito Justi, que aqui está, o Edmundo Soares, que também está, o Flávio Portela, neste ato representando a Empresa Jornalística Caldas Júnior, o Armando Burd, que eu sei o quanto a participação dele tem significado neste ato de hoje, o Flávio Alcaraz Gomes, que tanto tem-me apoiado, o Luiz Carlos Rech, o Eduardo Conil, tantos e tantos, o Nicão Duarte, aqui presente; Núbia Silveira, Joseph Zukauskas, que, realmente, eu concordo, foi um prodígio tirá-lo da toca, ele, agora, está difícil, tem razão o Ver. João Dib; está, aqui, uma representação canoense, que eu quero até lembrar a presença, em primeiro lugar, do Francisco Biazús, que representa o Lions Clube de Canoas e tanta gente mais. Os meus colegas de cinqüenta anos atrás estão aqui. Eles são mais jovens do que eu, comecei um pouquinho antes: o Walter Oleben, Jalmar Fontoura da Silva, Jussara Oleben, enfim, gente que tem-me acompanhado durante toda a vida. Quando a gente cita nomes, a gente pode esquecer alguém, estou olhando ali o Vanderlei Soares, meu inesquecível companheiro também, e tantos amigos, José Roberto da Cunha Estrela, José Eleodoro Xavier de Castro, enfim, tantos e tantos. Mas, antes de terminar, quero dizer que a participação e o apoio da Carla Irigaray - e foi muito bem lembrado - foi absolutamente indispensável, como tem sido indispensável em toda a minha vida. E o fato de ela ter embarcado junto comigo a bordo da Nau Capitânia, barco do qual eu ainda não desembarquei, e não sei se o farei tão cedo, que ainda estou tomado pelo assunto, pelo tema, então, como eu disse, eu espero que a Carla esteja-me acompanhando a bordo. Além da Carla, a Ana e o Luís Felipe, que lá estão em Santa Catarina, mas me mandaram um abraço, a Alessandra e o Leco, o Lucas que aqui está, a Gabriela, filhos e netos, aliás, sobre o meu neto Lucas, estreando hoje uma gravata, é bom que saibam, é um dia especialíssimo dele. Eu espero que todos esses meus amigos e meus parentes possam, no futuro, orgulhar-se do trabalho que eu até agora fiz e pretendo continuar fazendo. Mas, sem dúvida, um dos motivos maiores de orgulho será contemplar esse pergaminho que vocês me oferecem, onde está escrito o meu nome e, junto a ele, esse exemplo de trabalho, devotamento à profissão que abraçou e capacidade de doação aos amigos: Érico Veríssimo. Muito obrigado pela honra.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): É com muita satisfação que anunciamos algumas mensagens recebidas de pessoas ou representações que, por vários motivos, não puderam estar presentes, mas que registram a satisfação e alegria por este ato: do Desembargador Luiz Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; do nosso querido Ver. Lauro Hagemann; do Cônsul-Geral do Uruguai Dr. Oscar Demarin; do Professor Dr. Irmão Elvo Clemente, Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras; do Clube Sociedade Ginástica, de Novo Hamburgo; do 1º Vice-Presidente da Associação Nacional de Escritores, Aldo de Magalhães; do Deputado Adilson Troca, Líder da Bancada do PSDB, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul; do Presidente da Academia Brasileira de Letras Tarcísio Padilha.

Aproveitamos a oportunidade para convidar os presentes para visitarem as três exposições que temos na Casa: a mostra oficial Os 500 Anos, a mostra oferecida pela Universidade de Caxias do Sul e uma terceira, pelo Consulado de Portugal.

Para encerrar esta Sessão, convidamos todos para, em pé, cantarmos o Hino Sul-Riograndense.

 

(É executado o Hino Sul-Riograndense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 21h03min.)

 

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